quarta-feira, 25 de junho de 2014

Humor Negro!


Eu sou um fã de humor negro, principalmente quando se fala em cinema. Nos filmes o negócio fica mais refinado, não se dá ao trabalho de fazer uma simples piada preconceituosa ou explorar ambiguidades como a da tirinha acima, costumam ser tramas bem elaboradas e com um roteiro ácido.

Duas pessoas em momentos distintos me pediram uma lista desse tipo de filme, daí quis escrever esse artigo. Escolhi 3 filmes do gênero em escalas diferentes de humor para não assustar os amigos.

Nível Iniciante - para aqueles que não estão habituados e nem sabem se realmente gostam, tem um título bem legal, bem leve, dá pra assistir em família (risos).


Morte no Funeral, 2010 (Death at a Funeral), um filme que chega de cara com Chris Rock que tem um lista imensa de comédia pastelão no currículo (e dubla a zebra em Madagascar) daí você já começa a assistir pré-disposto a rir, essa é a ideia. Tem também Martin Lawrence, de Vovó...Zona, para tirar toda sua dúvida de que se trata de uma comédia. E a cereja do bolo Peter Dinklage, o Tyrion de Game of Thrones. Atenção, esse filme é um remake, o original é britânico de 2007 (e tem Peter Dinklage também para a nooooossa alegria) mas se não é acostumado com isso, vai no estadunidense mesmo que é mais fácil de digerir. Resumo da ópera trata-se de uma família problemática que deixa as verdades fluírem durante o velório do patriarca da família.

Nível Intermediário - para aqueles que já tem o hábito de rir de piadas de mau gosto. Dá pra assistir com a família também mas a maioria vai ter certeza que se trata de um drama com lição de vida e não vai rir (talvez seja um drama mesmo e eu ri porque sou esquisito).


Bastidores de Um Casamento, 2011 (Another Happy Day), protagonizado por Ellen Barkin é outra lambança em família, mas como o nome já diz, acontece durante um casamento (uma tradução de título que fez todo o sentido). A carga dramática e sem noção sobre ela é muito massa e por muitas vezes engraçadíssima. A família é do avesso, ninguém é normal, todo mundo sofre, mas é engraçado. Tira umas gargalhadas em cada depoimento hipócrita e desumano, mas todos acham que se amam. Drogas, distúrbios, violência ... tudo que uma família normal tem direito. Neste a cereja do bolo fica por conta de Demi Moore, uma coadjuvante de luxo num papel que você não está acostumado a ver.

Nível Vamos Todos Para o Inferno - sério, se você rir nesse nível, vai arder no tridente do capeta, você não é uma pessoa boa. Não é o mais chocante dos filmes, não mesmo, o problema é que é uma COMÉDIA. Assista com quem tenha intimidade para rir e não ser julgado, evite os parentes próximos. 


Festa em Família, 1998 (Dogme 1 - Festen), longe de ser o filme mais constrangedor que existe mas já te introduz nesse mundo em grande estilo. Para variar, problemas internos de uma família. A questão não é se o problema aqui é maior ou menor que nos outros filmes mas a maneira que a narrativa se dá, é muito bem feita, muito perturbadora e, lógico, engraçada. O que faz desse filme especial? Ele é o primeiro título do Manifesto Dogma 95, do diretor e co-criador do manifesto Thomas Vinterberg (um outro adepto do manifesto é nada mais nada menos que Lars 'doidipedra' Von Trier). Trata-se de um movimento que de certa forma queria desconstruir alguns padrões da 7ª arte, fazendo coisas do tipo: não usar tripé, não mixar sons na edição, não usar iluminação artificial que não fosse da própria cena, não fazer filme de época etc. Isso faz de Festa em Família mais que um bom representante do humor negro, faz dele uma obra prima e o coloca de vez na história do cinema. Se interessar por mais desse movimento olhe a lista AQUI.

Enfim, é isso, espero ter ajudado os amigos a se interessarem por um gênero diferente de filmes. 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Me dá dinheiro!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Promessas

 

Vou tentar explicar a existência do item 280 da minha lista que é "não fazer promessas em tempos de crise". Tudo começa na infância, estudava em um colégio religioso e de disciplina rígida. Eu sempre fui de ficar quieto, não era de aprontar, na época não tinha consciência direito de certo e errado mas por ser introvertido preferiria a morte a ser exposto em público como 'menino mau'. Comecei então a reparar como alguns arteiros saiam do problema, tinha um ritual que todo funcionário da escola seguia quando flagrava uma criança levada:

1- Peça desculpas
2- Se possível desfaça o que fez ou compense o ato.
3- Prometa que nunca mais vai fazer isso.

O problema é o item 3, quem em sã consciência não faria o 3? Se você já tinha atropelado seu orgulho no 1 e no 2, então, chegar no 3 é praticamente um alívio é tipo um "você já está se safando, só falta isso". A maioria dos que testemunhei não abandonavam a ViDa LokA de roubar toddynho no recreio e nem se lembravam da promessa feita.

Um pouco mais velho, aos 13 anos, aconteceu uma celebração de natal na nossa casa, meu avô providenciou algumas garrafas de espumante bem barato para estourarmos e sujarmos o chão, sério a intenção não era beber era fazer bagunça mesmo. Mas eu estava fissurado em saber os efeitos do álcool. Meu pai então cansado de proibir e dar broncas adotou outra tática, não apenas permitiu como encheu meu copo (não tínhamos taças ou não confiaram taças às crianças, não me lembro). Bebi tudo e papai encheu novamente. Lembro de ter ficado bom somente uma semana depois na festa da virada de ano. Não fiquei bêbado, alegre ou algo do tipo, só fiquei sonolento e com a cabeça doendo horrores. Lembro de ter feito não somente uma vez mas várias vezes a promessa clássica "nunca mais bebo na minha vida", meu pai com aquele sorriso no rosto do tipo "missão cumprida".

Essa promessa durou por mais de década mas acabou caindo por terra, até ganhar adega eu já ganhei. Fiz a promessa no pior momento, quando a cabeça parecia prestes a explodir. Um dia ela perde o sentido tanto é que perdeu.

Um dia um cara se identificou como pesquisador e pediu para entrar na minha casa, deixei ele entrar e no fim percebi que não tinha nenhuma estatística sendo feita, era uma venda de enciclopédia. Resultado, depois de 1 hora ele já tinha chorado e me envolvido numa campanha em que se vendesse aquele último produto sua vida de ex-menino de rua teria uma guinada através de uma ONG que nunca ouvi falar. Era uma coisa absurda: 10 parcelas de 20% do meu salário numa época em que 70% já estava comprometida com um carro. Sim, eu fiz essa burrice. Dois dias depois desfiz. Representantes da ONG me odiaram e até hoje tenho dúvidas sobre aquilo. Fiz uma promessa estúpida que teria problemas em honrar, totalmente envolvido pela emoção e oratória do cara e sem nenhuma convicção de que o tal projeto existia. Eu recebi um número de telefone em Salvador, liguei um dia inteiro e sem sucesso, era o que faltava pra eu sair correndo e pedir os cheques de volta.  

Na faculdade (em uma das 5) foi recomendado um livro em que o autor contava sua prática de não tomar decisões difíceis com pouco tempo para pensar no assunto, quando não lhe davam prazo a resposta automática já seria "não, obrigado" por mais tentadora que fosse a proposta. Claro que eu aprendi a lição e quando eu abri minha empresa em uma das primeiras compras gastei o dobro do valor que um equipamento valia pressionado por uma ligação dizendo "decide logo pois só vai rolar se for hoje". Como assim? Amanhã todos esses equipamentos serão apreendidos pela Otan? E mais uma vez sob pressão tomei uma decisão que me lascou de várias formas.

Por isso que segundo turno de eleição é a coisa mais absurda em termos de campanha, o cara chegou até ali, vai prometer até a mãe se for preciso. Dá até preguiça quando precisa de desempate, as apostas são altas e ninguém consegue pagar a conta depois.

Percebo que não apenas prometer mas pressionar para ouvir uma promessa não vale a pena. Grandes decisões em tempos de crise podem aumentar a crise. Até nossa lei sabe disso, se estivermos em estado de emergência ou algo do tipo não podemos ter emenda constitucional e o princípio por traz disso é o mesmo. Países que estão passando por alguma calamidade não deixam suas crianças serem adotadas por estrangeiros pela mesma razão (vide Haiti depois do último grande terremoto).

Enfim, precisei viver quase 3 décadas para acreditar em um dos mais antigos clichês: calma, conta até dez. 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Caiu a ficha!


Sou um ser escroto, ora insensível ora fingindo ser. Virei pra mulher em 2012 e disse "já que não estamos fazendo nada, bora casar?". Esse sou eu fingindo ser. A verdade é que tremi um pouco, me emocionei mas tinha certeza do que estava propondo.

De lá pra cá continuei curtindo momentos de idealização e planejamento dessa vida a dois. Essa questão de estar com alguém tempo integral me cativa muito, talvez porque eu seja um ser humano comum que gosta muito de ser amado e retribuir. Uma carência gigante que temos que até o religioso que diz ser auto-suficiente em sua fé se casa na premissa em que algo maior disse a ele que seria bom. Vendo a incoerência algumas doutrinas falam em celibato para corrigir essa conta, o que não dá muito certo também. Enfim, aceitei minha situação ou minha doença e quero me casar.

Sempre negligenciei a importância do rito de passagem, a cerimônia em si. Sempre valorizei o que viria depois. Mas hoje que faltam 2 meses apenas a ficha caiu. O mais interessante foi o motivo: o bendito e ineficiente* chá de panela ou chá bar como apelidaram. A reação das pessoas com esse evento me fez perceber um pouco melhor o significado do casamento enquanto festa. As pessoas se animam, se importam, caramba que povo mau, eu estava bem do outro jeito. Agora tudo mudou, parece que depois do matrimônio eu vou tipo morfar igual power ranger e terei poderes e responsabilidades que envolvem a paz mundial.

O chá de panela ou chá bar em meio a sua futilidade* se transformou em pré-carnaval, aquele aquecimento que você já vai de peruca e solta meia franga. Essa droga me fez levar o tal susto, o gatilho para o efeito "putz, era menor na foto". 

Resumindo, estou feliz, bastante, mas rolou aquele frio na barriga de quando você vai se apresentar, passou meses ensaiando aquela música e aquelas notas, vai ter plateia e jurados. Nesse caso mesmo sabendo que os jurados vão te aprovar e te diplomar um cantor profissional (a bosta da cadeira vai ter que girar obrigatoriamente) e mesmo sabendo que tudo vai dar certo a vida de um cantor é novidade para você. Você se preparou planejou, perdeu tempo lendo livros de gente especialista** mas nunca foi um cantor antes. "Éder, quanta bobeira!" sim, eu mesmo estava dizendo isso uns 3 dias atrás. Enfim, é isso, vou me casar.

*Trata-se de um evento caro para ganhar presente, bastaria então pegar o dinheiro gasto no evento e comprar você mesmo os presentes. Não adianta filho, eu tentei, no fim até você se empolga com a parada e quer ver todo mundo lá, é tipo um aniversário, só que você vai dividir com outra pessoa a festa, e pra piorar é o primeiro evento do gênero na sua vida. Posso ficar repetindo esse mantra do quão besta é esse chá, mas no fundo já estou gostando da ideia e feliz por ninguém ter me dado ouvidos quando propagava meu pensamento lógico.

**O que te gabarita a ser um especialista em casamentos? Ter casado várias vezes te faz um bosta no assunto e ter casado somente uma vez não te faz nada mais que um juvenil no tema. Então fica o conselho, cuidado com quem escreve livros sobre o assunto.