segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A origem

Quando eu tomo ácido eu escrevo esse tipo de coisa. Um dia vira livro.

----------------
Já tinha começado a revolta dos carrapatos bem na época. Eles queriam que o hospedeiro parasse de comer aquele lixo feito de osso de vaca e voltasse a comer carne.

A embalagem é tão bonita, mostra aqueles pedaços de bife bem vermelhos dá até pra sentir o cheiro, mas Nine-x, o profeta carrapato, já tinha contado pra colônia Totó inteira que era mentira, tudo osso prensado.

Fazia sentido, eles sabiam a diferença do gosto da carne pra ração. Na verdade, sabiam a diferença do gosto do sangue do Totó. Ele comeu carne duas ou três vezes na vida, num ritual estranho em que os bípedes vestem pouca roupa,  bebem um líquido amarelo largam o forno e recorrem ao fogo in natura. Parece um ritual em homenagem aos antepassados.

Nesses rituais sempre sobra alguma coisa pro Totó, todo mundo está bem humorado. E nesse momento de regozijo que a festa ficava boa para os carrapatos, sangue vinha mais consistente, mais forte, mais vermelho, Totó se coça e come mais com todos os bípedes querendo dar um agrado.

Eles queriam mais, queriam o melhor. Nine-X reunião todos no salão principal abaixo da orelha esquerda, mais no sul do país contam a história como se fossem orelha direita, regionalismos..

Lá decidiram ameaçar Totó, queriam independência, que largasse os bípedes voltasse para selva e reencontrasse seu instinto primitivo da caça, queriam provar outros tons de rubro.

Foi uma assembleia quase unânime, houve apenas um voto contrário, BigShitter, sempre ele. Alegou que isso poderia desencadear velhas profecias, e que a domesticação dos caninos tinham uma razão par ter acontecido no passado evolutivo. Mas qual razão era essa? Não soube falar.

Daí em diante foi tranquilo, existe um sistema de revezamento nas refeições a ideia é não matar a colônia, não matar o Totó. Qualquer coisa que quisessem era só desfazer o rodízio e morderem todos de um vez condicionando horas de alívio quando o canino faziam o que queriam e horas de agonia quando não fizesse.

Toda demonstração de conforto com bípedes e com cidades era cruelmente repreendida, toda fuga para qualquer tipo de mato ou algo verde era recompensada com um temporário jejum. Estavam isentos carrapatos velhos e recem nascidos que mantiveram seus horários de alimentação. BigShitter na primeira tentativa de furar o movimento, foi lançado a própria sorte, fora do hospedeiro, Nine-X teve notícias que Big que se arranjou em um rato.

Em um mês o plano deu certo, Totó estava na floresta, ou em algum parque no centro da cidade, já que havia muitos pombos no lugar. Começou a recusar comidas processadas e fome apertou,  sabe o pombo? Pois então começamos ali, micos filhotes, pequenos roedores e outras coisas do tipo.

Achavam que intensificando a terapia iriam provar animais maiores e gostos diferentes. Não se contentaram com aquilo. Mas havia um limite psicológico que não acreditavam existir, não trataram o hospedeiro com um ser com necessidades até mesmo sociais. Totó um dia comeu um mendigo, e essa é a história do primeiro Lobisomen. 

Éder dos Santos Silva 2015