quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Deformados pelo Sol!

Um amigo recentemente me emprestou um livro e com uma excelente jogada com minha vaidade fisgou minha atenção. Foi uma frase simples porém com efeitos devastadores "Como você é inteligente e está gostando de ler agora quero sua opinião sobre esse livro", perceberam a sagacidade do rapaz né?! Como o item 40 da lista (ler 8 livros por ano) ainda não estava alcançado, peguei para ler.

Hoje não deixo livro pela metade, quero me disciplinar e desistir de livros me torna preguiçoso, pra mim, que engatinho no hábito da leitura, é um retrocesso. Mas esse deu muita vontade de abandonar, várias vezes. Pois então era um livro sobre um assunto que eu NUNCA tinha ouvido falar, a Cultura Racional. No fim das contas me rendeu várias pesquisas na interwebs e no fim foi interessante conhecer mais uma não-religião. O Tim Maia gravou 2 discos inteiros sobre o assunto na década de 70, eu não sabia disso, sou nascido dos anos 80 e ele já tinha abandonado a fase Racional dele


Até estou aproveitando a postagem e atualizando a lista aqui, o item 34 - Ler o Alcorão, agora virou "Ler sobre religiões". Isso é muito interessante, entender como outro pensa, é muito legal, mas é importante não largar o livro antes da hora, tenho que me lembrar disso sempre.

Começo dizendo que acho o máximo essa história de "não se trata de uma religião" ou "eu não sou religioso". Esse conceito está alastrado por tudo quanto é religião, isso tudo por que a palavra no século XXI se tornou pejorativa então ninguém quer ser o que é. Pensa em um gordo dizendo "Eu prefiro dizer que sou um não-magro pois a palavra gordo está associada a pessoas que fazem gordice, como eu não faço por favor me chamem de não-magro". Os próprios cristãos repetem frases de efeito como "Mais Jesus e Menos Religião" hein?! É, o mundo tá doido.

O primeiro livro da Cultura Racional da série Universo em Desencanto (de um total de 28) já começa te garantindo que não se trata de religião, ao mesmo tempo se diz uma ciência, porém uma ciência superior pois a humana é falha e cheia de erros na visão da galera. Já no começo da obra também destrói o espiritismo, afinal uma religião que se preze precisa de uma religião rival. O mais engraçado é que não curtem o espiritismo mas os livros foram psicografados, achei isso bem interessante. De acordo com o escritor o livro é ditado pelo Racional Superior. Como toda religião profética o acesso à fonte de informação é exclusividade de uma pessoa ou de um grupo seleto/premium, no caso quem teve acesso aos ensinamentos diretos do Racional Superior foi o brasileiro Manuel Jacinto Coelho (Brasil - sil - sil), já falecido. Causa estranheza o livro vir de uma fonte tão divina e ser tão mal escrito, as justificativas são rasas: é para que todos conseguissem ler, é para que fosse fácil de traduzir, é para que uma pessoa com pouco estudo não tivesse dificuldade etc. Pra mim não justifica nem de longe, literatura universal e texto mal escrito são diferentes.

Fazendo um resumo bem porco da história: Vivíamos numa planície com todos os outros racionais, bem felizes, mas resolvemos entrar numa nova planície que não estava pronta, fomos desobedientes (pra variar), daí evoluímos no lugar errado e isso nos custou a separação do resto da galera. Nossas virtudes foram nos deixando e formaram o sol, este então nos tosta permanentemente nos deixando deformados e bem diferentes do que éramos inviabilizando a volta pra casa. Formou-se tudo então, Terra, natureza, lua, estrelas e todo resto. A ideia é apocalíptica pois tudo vai piorar, mas um dia todo mundo volta. A questão é sair da ignorância, do encantamento, como? Lendo os 28 livros no mínimo (na verdade são 1000). Tem muita história legal, tem muitas alegorias, mas não tem sentido ficar contando resumido aqui, até porque vai que um estudante da Cultura Racional lê isso aqui e começa a ficar bravo por alguma suposta blasfêmia.

Uma religião que não tem um templo de reunião, mas tem as Livrarias espalhadas pelo país que fornecem os livros, fonte única de redenção. Como toda boa religião já sofreu suas divisões, hoje com o seu principal profeta morto, há quem venda os livros a um preço mais salgado afirmando ser o dono dos direitos e há quem venda a preço de impressão de forma clandestina pois acredita que o importante é levar a informação adiante.

O que eu achei de tudo? Muito interessante, dá pra fazer filmes e séries sci-fi, mas como filosofia é bem estranha, sabe aquela história de que tudo é mal, até a bondade terrena é má perante os planos espirituais (astral superior, planícies etc), pois então, se tudo é mal devo me preocupar em ser bom pra quê?! O que vale é a intenção? Se eu pelo menos não tentar vou pagar pela eternidade? Não é a primeira religião que encontro com esse tipo de paradoxo. Enfim, é um mundo totalmente novo pra mim, quero ler mais sobre outras religiões em breve. Para aqueles que também tem esse tipo de curiosidade recomendo a pesquisa, é uma galera bem interessante. Ah, antes que me esqueça, eu li sim, tudinho, já os outros 27 eu vou ficar devendo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A semana da Consciência Negra

Próximo dia 20 será a data da Consciência Negra. Durante essa semana infelizmente boa parte do debate produzido não trará nenhuma consciência. Parte da conversa vai ficar no "Quero um dia do branco também" em que exige-se uma isonomia em cima de um raciocínio no mínimo limitado. É o tipo da pessoa que acredita que se 'paga' o salário do gari tem o direito inalienável de sujar a rua.

Os que seguem adiante dessa primeira barreira por vezes ficam em outra. Um sofisma muito famoso "Isso vai aumentar mais o racismo". Defendendo como verdade que o silêncio é o melhor remédio para isso. Não lembro de grandes transformações comportamentais acontecerem ao acaso e de forma unânime. O processo não se dá sozinho, é preciso tocar na ferida, é preciso mostrar os dados, é preciso mostrar a cor de pele predominante nas cadeias e contrapor com a cor de pele predominante das universidades. A defesa do silêncio é uma argumentação pró-omissão. Em 1888 teríamos abolição não falando no assunto? O que mais atrapalha são as argumentações de efeito (fotos, vídeos, frases...) costumam deixar o debate mais infantil, sabe quando criança você terminava um frase impactante dizendo "Vish!", é bem por aí. A mais famosa é uma entrevista do Morgam Freeman que é compartilhada religiosamente todo dia 20 de novembro desde a escolha da data.


Nos EUA a história de libertação foi bem mais sangrenta que no Brasil, ou seja, não foi com silêncio. Morgan Freeman é rico, é famoso e continua sendo vítima de racismo. Porque as pessoas acham que ele obrigatoriamente tem que levantar alguma bandeira de luta, o entrevistador insistiu para que ele fosse um ativista naquele momento e tivesse opinião formada para algo que ele não quer debater. Ser consciente das limitações do meio ambiente e dos seus problemas não te obriga a se associar ao Green Peace. Mas não precisa de genialidade para saber que em Hollywood atores bem sucedidos negros são minoria e quando aparece um fazem dele uma bandeira. É compreensível a irritação de Freeman, porém ele fez parecer em certo ponto que o silêncio é o melhor remédio, esse foi o problema. Não é bacana fazer da exceção a regra, é sem sentido. Na situação que ele se encontra não será vítima de abordagens policiais racistas, não será segregado em algum evento, em busca de algum emprego etc.

Um planeta em que a publicidade, o cinema, dizem que você não é tão bonito assim dependendo da cor da sua pele, o certo é não falar no assunto? A fabricante de brinquedos Mattel, empresa que faz a barbie, lançou nos anos 60 a boneca que ficou conhecida como Colored Francie, uma boneca negra (lembrando que colored é uma forma de dizer por tabela que a pessoa é negra, como se preto ou negro fosse pejorativo, no Brasil seria o famoso moreninho). E para arrematar os problemas a boneca foi produzida em cima dos moldes das bonecas brancas, ou seja, sem traços afro algum, só mudaram a cor da tinta.

Aqui em Brasília fiz um amigo que trabalhava numa ONG que basicamente atuava em reforço escolar com crianças entre outras coisas. Em uma atividade em que respondiam um questionários diziam em que etnia se enquadravam. As crianças eram de maioria negra, porém nem 10% "perceberam" que eram negros, a maior parte se declarou branca. A ONG poderia ter adotado o silêncio como tática, mas não. Foram feitos alguns programas culturais que de uma maneira bem resumida eu poderia dizer que tratou sim do orgulho de ser negro. "Ah, mas se alguém disser que tem orgulho de ser branco é considerado racista, isso é injusto", alguém que queira dizer por aí que tem orgulho de ser branco pra mim é só um idiota. As ações afirmativas sobre orgulho de ser negro só existem por que consumimos o tempo todo uma informação contrária. Se não houvesse necessidade de recuperar uma imagem denegrida (que interessante o radical dessa palavra) com certeza ninguém faria. 

Um exemplo simples que tomou parte dos noticiários da semana passada foi o STF. Quando existem sentenças polêmicas de qualquer um dos ministros as críticas são assim: Ladrão Fulano, Juiz Ciclano Fanfarrão, Beltrano vendido etc. Mas quando Joaquim Barbosa está no meio daí fica legal: "Esse preto tá de sacanagem", "Demos uma chance pro negão e assim que ele retribui" etc. Não entendo, pare o mundo que eu quero descer.

Enfim, aproveite a semana, entenda, leia, olhe as estatísticas, discorde de mim, faça qualquer coisa, mas gere conhecimento, afinal, preconceito é a falta dele.