
Os que seguem adiante dessa primeira barreira por vezes ficam em outra. Um sofisma muito famoso "Isso vai aumentar mais o racismo". Defendendo como verdade que o silêncio é o melhor remédio para isso. Não lembro de grandes transformações comportamentais acontecerem ao acaso e de forma unânime. O processo não se dá sozinho, é preciso tocar na ferida, é preciso mostrar os dados, é preciso mostrar a cor de pele predominante nas cadeias e contrapor com a cor de pele predominante das universidades. A defesa do silêncio é uma argumentação pró-omissão. Em 1888 teríamos abolição não falando no assunto? O que mais atrapalha são as argumentações de efeito (fotos, vídeos, frases...) costumam deixar o debate mais infantil, sabe quando criança você terminava um frase impactante dizendo "Vish!", é bem por aí. A mais famosa é uma entrevista do Morgam Freeman que é compartilhada religiosamente todo dia 20 de novembro desde a escolha da data.
Nos EUA a história de libertação foi bem mais sangrenta que no Brasil, ou seja, não foi com silêncio. Morgan Freeman é rico, é famoso e continua sendo vítima de racismo. Porque as pessoas acham que ele obrigatoriamente tem que levantar alguma bandeira de luta, o entrevistador insistiu para que ele fosse um ativista naquele momento e tivesse opinião formada para algo que ele não quer debater. Ser consciente das limitações do meio ambiente e dos seus problemas não te obriga a se associar ao Green Peace. Mas não precisa de genialidade para saber que em Hollywood atores bem sucedidos negros são minoria e quando aparece um fazem dele uma bandeira. É compreensível a irritação de Freeman, porém ele fez parecer em certo ponto que o silêncio é o melhor remédio, esse foi o problema. Não é bacana fazer da exceção a regra, é sem sentido. Na situação que ele se encontra não será vítima de abordagens policiais racistas, não será segregado em algum evento, em busca de algum emprego etc.

Aqui em Brasília fiz um amigo que trabalhava numa ONG que basicamente atuava em reforço escolar com crianças entre outras coisas. Em uma atividade em que respondiam um questionários diziam em que etnia se enquadravam. As crianças eram de maioria negra, porém nem 10% "perceberam" que eram negros, a maior parte se declarou branca. A ONG poderia ter adotado o silêncio como tática, mas não. Foram feitos alguns programas culturais que de uma maneira bem resumida eu poderia dizer que tratou sim do orgulho de ser negro. "Ah, mas se alguém disser que tem orgulho de ser branco é considerado racista, isso é injusto", alguém que queira dizer por aí que tem orgulho de ser branco pra mim é só um idiota. As ações afirmativas sobre orgulho de ser negro só existem por que consumimos o tempo todo uma informação contrária. Se não houvesse necessidade de recuperar uma imagem denegrida (que interessante o radical dessa palavra) com certeza ninguém faria.

Enfim, aproveite a semana, entenda, leia, olhe as estatísticas, discorde de mim, faça qualquer coisa, mas gere conhecimento, afinal, preconceito é a falta dele.
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