segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Fim das eleições!


Na virada do ano escrevi sobre minhas percepções sobre a polarização e sobre o maniqueísmo que dominava o grande fórum do debate nacional, o boteco. Ali percebia que minha ilusão quanto às mudanças que o Brasil veria era fruto de uma imaturidade e até mesmo de uma arrogância minha. Acreditar que 500 de comportamento seriam mudados em um mês, o fatídico junho de 2013, era além de surreal, era tolo pois partia do pressuposto que eu saberia exatamente as respostas para um país melhor. 

Houve um sacode no brasileiro, a galera está sim se interessando mais e lendo mais, isso é bom é excelente. Vi infinitas publicações do gênero "o que adianta ir as ruas e votar em X" e X sempre era o candidato odiado de quem publicava. Muito provavelmente porque junho de 2013 foi apropriado por gritos menores já no seu final, gritos de 'fora' e de 'impeachment'. O que todos ali sonhavam era com algum tipo de reforma profunda que independia do partido, vide as pressões que foram feitas sobre fim do foro privilegiado, fim do voto secreto no congresso, investimentos na educação, redução da quantidade de parlamentares etc. Era muito comum ouvir esses gritos de ordem nas ruas e achar grupos nas redes sociais debatendo esses temas. Curtia ler e assistir a entrevistas do FHC no período que ele tentava dizer justamente isso que não se tratava de um movimento político, infelizmente muitos interpretaram os protestos como anti-político que é outra coisa totalmente diferente e sem sentido.


Onde quero chegar com essa ladainha? Os protestos de maio e junho de 1968 com estopim na França e com alastro mundial também não deram em "nada", já que o governo francês contornou a situação, nos EUA a guerra do Vietnã não foi interrompida e no Brasil a ditadura não desapareceu. Mas muita gente séria que estudou e/ou viveu o período atribui muitos ganhos em direitos humanos que ocorreram em escala global ao movimento de 68. Cria-se um divisor de aguas e um divisor de pensamento. Torço para que esse seja o maior legado que o Brasil também vai ter de 2013.

Então essas eleições de 2014 entram pra história da quantidade de pessoas que se importaram, que leram a respeito e que debateram. Obviamente entra também pra história com a maior desfazedora de amizades, de argumentações rasas, de xingamentos sem sentido e do preconceito. Nessa sopa vejo um saldo positivo, pois estamos nos importando, queria muito que tivéssemos maturidade para continuar as conversas, o próximo caso de escândalo que acontecer vamos ter senso crítico de buscar justiça ou vamos abrandar por ser o nosso partido? Esse é um medo que tenho, da indignação seletiva, a mesma polarização que vive os EUA onde grande parte da população vive um disputa muito mais irracional que aqui e boa parte dos estados não mudam o voto (semelhanças?). Vejo que o Brasil é mais interessante e possui uma pluralidade partidária que dá mais opções e condições para os partidos se manterem. Gosto mais assim e espero que trilhemos outro caminho com mais diferenças e menos coincidências com os EUA. Vivo um cauteloso otimismo.

E o que eu fiz nessas eleições? Em quem votei?

Fiquei na minha, só observando. As poucas vezes que argumentei alguma coisa me chamaram de burro, esquerda caviar e analfabeto funcional coxinha. Parece impossível ser xingado dos dois lados, mas aconteceu, e com gente que estuda e muito, mas são tão fervorosos que nem ouvem só xingam. O resto do tempo fiz pouquíssimos comentários, quando fazia eram menos incisivos ou eram piadinhas inocentes, falei mais do Vila Nova do que dos candidatos (aliás, rebaixamento inevitável esse ano). Me recusei a votar nos dois turnos, não justifiquei nem nada. Simplesmente não quis. Não via razão par escolher um candidato que não vai conseguir governar e se conseguir é porque vendeu a alma pra alguém. Entre os 3 mais votados pra presidente todos foram patrocinados pelas mesmas corporações. Nos estados tanto GO quanto DF estavam ferrados com as opções. No legislativo eu tenho tantas ressalvas quanto ao modelo que adotamos, bicameral, mais de 500 deputados e sistema proporcional na eleições que não vi motivo pra participar disso. 

Resumindo, não acredito mais no poder do voto. Não acredito que jogar anjo no inferno faz o lugar melhorar, não acredito que colocar o melhor piloto da Fórmula 1 pra pilotar o Titanic faça alguma diferença, sabe nem dar a partida. Acredito numa reforma política independe do voto, que seja fruto de pressão popular. Exemplo pequeno rápido: projetos como o de transformar crime de corrupção em hediondo existiam há anos de vários partidos diferentes, em poucos dias foi votado quando a galera resolveu gritar, mas falta outro turno de votação que está parado até hoje, porque paramos de gritar. Ainda nos falta maturidade política, várias coisas ficaram esquecidas e não, não foi a copa.

Vou arcar com as consequências, que não são drásticas, da minha decisão de sequer justificar o voto, mas não estou arrependido. No primeiro turno se somarmos brancos, nulos e abstenções teremos um número mais expressivo que a votação do Aécio. Já no segundo fomos um total de 37 279 773. É gente demais que deixou de escolher um candidato. No Rio de Janeiro o não-voto ganhou as eleições ficando na frente do eleito Pezão, histórico. Tira-se uma boa meditação desses números.


Se for taxado de anarquista/golpista/guerrilheiro/coxinha/covarde/etc nem estou me importando tanto, nem reajo mais, simplesmente me calo e saio de cena. Mas nos bons debates estarei em todos, afinal é no boteco que o conhecimento se forma. E se em 2016 ou 2018 eu mudar de ideia, eu voto normalmente, parei com esses orgulhos de não mudar pra ter cara de sábio chinês da montanha cheio de verdades universais.


Um comentário:

  1. Está claro a muito tempo que pão e circo comanda a massa, como a fé!
    Tenta escolher entre um cego e um aleijado para jogar futebol!

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